segunda-feira, 1 de agosto de 2011

celso borges - entre/vista



Celso Borges é de São Luís do Maranhão, onde nasceu em 1959. Poeta, jornalista e letrista, viveu 20 anos em São Paulo e voltou a morar em São Luís em 2009. Parceiro de Chico César e Zeca Baleiro, entre outros, tem oito livros de poesia publicados: Cantanto (1981); No instante da cidade (1983); Pelo avesso (1985); Persona non grata (1990); Nenhuma das respostas anteriores (1996); XXI (2000); Música (2006) e Belle Époque (2010).

No final dos anos 90, inicia pesquisa que reúne poesia e música, com referências que vão da música popular brasileira às experiências sonoras de vanguarda. O resultado desse diálogo está nos livros-CDs – XXI, Música e Belle Époque, com a participação de mais de 50 poetas e compositores brasileiros. Alguns poemas de XXI e Música serviram como base para o Manifesto III, primeiro espetáculo de dança do Grupo Pilares (Palmas-TO), em junho de 2008, que fez uma releitura cênica de poesias de Celso Borges.

Nos últimos sete anos, Celso Borges tem levado a poesia para o palco com os projetos Poesia Dub (2004), ao lado do DJ e pesquisador Otávio Rodrigues; A Posição da Poesia é Oposição (2009), com o guitarrista Christian Portela; e A Poesia Voando (2011), com o dj Beto Ehongue. Eles se apresentaram no Tim Festival (SP-2004); Baile do Baleiro, do compositor Zeca Baleiro (SP-2004); Festival Londrix (Londrina-2006); Catarse (Sesc Pompéia-2009) e Projeto Outros Bárbaros (Itaú Cultural, SP- 2005 e 2007) e no Programa Literatura em Revista (CCBNB, Fortaleza, Juazeiro (CE) e Sousa (PB) – 2010 e 2011).

Em maio de 2009, Celso dividiu o palco com Zeca Baleiro no projeto Parcerias: A voz da poesia, promovido pela biblioteca Alceu Amoroso Lima, em São Paulo. Num papo descontraído, os dois artistas contaram a história de algumas de suas mais de 20 parcerias e de como começaram a compor juntos, nos anos 80, em São Luís.

Celso Borges tem poemas publicados nas revistas de arte e cultura Coyote, Oroboro e Poesia Sempre (Biblioteca Nacional). Ministrou oficinas de poesia em São Luís, Imperatriz (MA) e Palmas (TO). Atualmente, apresenta na Rádio Uol o programa Biotônico ao lado de Zeca Baleiro e do DJ Otávio Rodrigues.
  
Conheci CB pessoalmente, por ocasião do projeto Outros Bárbaros, idelaizado pelo nosso amigo poeta Ademir Assunção, reliazado no Itaú Cultural São Paulo, em 2005. Muito antes disso a poesia de Celso Borges já me instigava com essa lingaugem visceral contemporânea sabedor que da escrita e da fala podemos ir em busca de toda língua que se foi, e trazer para o presente a língua que se quer dentro do poema.


 1 – a linguagem no poema está na língua que ficou ou na língua que se foi

Oi, oi, cadê a língua que se foi?
Oi, oi, cadê a língua que se foi, hein?  

 Leiam minha língua
Ouçam minha língua
Lambam minha língua
Rocem minha língua
Beijem minha língua
Chupem minha língua
Mordam minha língua
Comam minha língua
Falem minha língua

É língua vária, vira vício, vira várias línguas
Várias viram vírus viram solitária língua vária
vira vício, vira várias línguas
Várias viram vírus viram solitária
Linguagem

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2 - os poemas para o XXI são para celebrar o novo século ou para enterrar o que passou?

aqui estou
às vezes nem às vezes
sou sempre
vivo de sons e sens
envenenando com palavras
e sentimentos
a espinha dorsal do novo século.

aqui estou
às vezes sim às vezes são
não vou
do começo ao fim em vão

do século XX
-múmia recente-
jogo fora o jardim de cinzas
-adubo inútil-
para o coração do futuro

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 3 – o poeta confesso é o réu desacreditado do mundo perante o seu espelho?

mea culpa

falo blasfemo grito
como se tudo já tivesse sido dito
em vão

palavras loucas ouvidos moucos

eu sei
do céu ao chão
do sol ao léu
o réu sou eu

4 – quando o poeta extrai de si o seu auto retrato o que s-Obra no poema?

autoretrato

duas arritmias graves
dores cíclicas nas costas
desvio acentuado na coluna
amígdalas arrancadas aos seis anos
dores de cabeça de estimação desde os 20
gastrite aos 22
hepatite b aos 24
fístula entrepernas extraída aos 33
retirada de vesícula aos 40
insuficiência mitral aos 44
vasectomia aos 45
artrose no dedo mindinho aos 47
plástica de válvula mitral aos 48

poesia desde os 17

5 – haveria outra forma do poeta encarar o tempo quando o tempo e é este?

belle époque

escadas tropeçam
calças voam
móveis acendem
baratas pedem socorro

as horas avançam sobre dias e noites

cadeiras sobem pelas paredes
tronos desfilam no telhado
trombas de elefantes varrem amendoins do fundo do poço
uma terceira perna se cala
pinga uma gota de sede no papel

as horas as horas as horas



6 – cada lugar na tua coisa cada coisa em seu  lugar?


frankenstein pelo avesso

silicone nos cotovelos
lipoaspiração no calcanhar esquerdo
plástica reparadora na virilha
botox na falange do dedo mindinho
lifting no couro cabeludo
enxerto nos grandes lábios
cílios postiços no púbis
implante de pentelhos nas sobrancelhas
transplante capilar na bunda
revitalização de pele na orelha
rejuvenecimento nas canelas
peeling nas entranhas

cada coisa em seu devido lugar
cada coisa fora dele


7 -  o boi como metáfora é o dente do homem mastigando aquilo que o bicho não come ou a língua do bicho que não é do homem é a metáfora do boi?

matadouro

a baba do boi é do boi
o berro do boi é do boi
a dor do boi é do boi
a morte do boi é do boi

mas o boi não é do boi
o carro de boi não é do boi
a bosta de boi não é do boi
a língua de boi não é do boi
a costela de boi não é do boi
o chifre de boi não é do boi
o couro de boi não é do boi
a carne de boi não é boi

não é do boi o bumba-meu-boi

quase tudo do boi é do homem
e o que é do homem o bicho não come

cidade veracidade

onde tudo é carnaval minha madrinha se chamava cecília nunca soube onde minha mãe a conheceu por muitos anos morou na rua sacramento ao la...